"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

domingo, 17 de outubro de 2010

Sabedoria...

O que é a sabedoria? É a felicidade na verdade, ou «a alegria que nasce da verdade». Esta é a expressão que Santo Agostinho utiliza para definir a beatitude, a vida verdadeiramente feliz, em oposição ás nossas pequenas felicidades, sempre mais ou menos factícias ou ilusórias. Sou sensível ao facto de que é a mesma palavrabeatitude que Espinoza retomará, bem mais tarde, para designar a felicidade do sábio, a felicidade que não é a recompensa da virtude mas a própria virtude... a beatitude é a felicidade do sábio, em oposição às felicidades que nós, que não somos sábios, conhecemos comumente, ou, digamos, às nossas aparências de felicidade, que às vezes são alimentadas por drogas ou álcoois, muitas vezes por ilusões, diversão ou má-fé. Pequenas mentiras, pequenos derivativos, remedinhos, estimulantezinhos... não sejamos severos demais. Nem sempre podemos dispensá-los. Mas a sabedoria é outra coisa. A sabedoria seria a felicidade na verdade. 
A sabedoria? É uma felicidade verdadeira ou uma verdade feliz. Não façamos disso um absoluto, porém. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou menos loucos. Digamos que a sabedoria aponta para uma direcção: a do máximo de felicidade no máximo de lucidez. 

(André Compte-Sponville, in 'A Felicidade, Desesperadamente')

2 comentários:

Richard Mathenhauer disse...

Vivemos como se tivéssemos de estar, todos os dias, felizes. Daí os remedinhos, o álcool, o botox, a máscara colada à cara...

Abraços,

Alan Tykhé disse...

Pois é meu cara amigo Richard, como diria Dostoievsky, "O homem percebe apenas suas tristezas. Ele lida com sua felicidade como algo natural." Daí os remédinhos, as próteses metafísicas para justificar sua infelicidade e a negação da própria condição humana, como se o homem fosse feito para a felicidade e dela se desviou.

Abraços

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