"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Arrogância


A arrogância não é nenhum meio adequado para se chegar a qualquer forma de entendimento com as pessoas que nos rodeiam e que menosprezamos, pelo que nos são insuportáveis. Mas, se não tivéssemos a arrogância, estaríamos perdidos, pois ela não é senão um meio de impormos a nossa vontade contra um mundo que de outro modo é, portanto, sem essa arrogância, nos devoraria por completo. Ele não teria por nós o mínimo respeito. Nós temos de a ele nos antecipar com a nossa própria arrogância, empregá-la onde ela nos salva de sermos devorados.


(Thomas Bernhard)

domingo, 23 de outubro de 2011

Da vitória sobre si mesmo


É preciso que eu seja luta e sucesso e fim e contradição dos fins. Ai! Aquele que advinha minha vontade advinha também os caminhos tortuosos que precisa seguir. Seja qual for a coisa que eu crie e o amor que lhe tenha em breve devo ser seu adversário e o adversário do meu amor: assim o quer a minha vontade.

E tu também, investigador, não és mais do que a senda e a pista da minha vontade: a minha vontade de potencia segue também as pegadas da tua vontade de verdade.

Certamente não encontrou verdade aquele que falava da vontade de existir; não há tal vontade. Porque o que não existe não pode querer; mas como poderia o que existe ainda desejar a existência! Só onde há vida há vontade; não vontade de vida, mas como eu ensino, vontade de potência. Há muitas coisas que o vivente aprecia mais do que a vida; mas nas próprias apreciações fala a vontade de potência. 



 (Friedrich Nietzsche in 'Assim Falou Zaratustra')

"A vontade é impotente perante o que está por trás dela. Não pode destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade."


(Friedrich Nietzsche)

sábado, 22 de outubro de 2011

Dias Irreconhecíveis


"Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo"? Essa indagação perplexa é o lugar-comum da cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão emaranhada em ti mesma como os seus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta."

 (Paulo Mendes Campos)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sábios?

Já não sou um sábio para as ovelhas : assim o quer a minha sorte. Bendita seja! Porque é esta a verdade: saí da casa dos sábios atirando com a porta. Demasiado tempo esteve a minha alma faminta sentada à sua mesa; eu não estou assim como eles, adestrado para o conhecimento como para descascar nozes. 

Amo a liberdade e o ar na terra fresca; e até me agrada mais dormir em peles de bois do que nas suas honrarias e dignidades. Sou ardente demais e estou demasiado consumido pelos próprios pensamentos; falta-me com frequência a respiração; então necessito procurar ar livre e sair de todos os compartimentos empoeirados. 

Eles, porém, estão sentados muito frescos à sombra: em parte alguma querem passar de espectadores, e guardam-se bem de se sentar onde o sol caldeia os degraus. Com os que se postam no meio da rua a olhar de boca aberta quem passa, assim eles aguardam de boca aberta os pensamentos dos outros. (...) Se dão mostras de sábios, horrorizam-me com suas pequenas sentenças e verdades: a sua sabedoria cheira amiúde como se saísse de um pântano, e indubitavelmente já nele ouvi cantar rãs. 

(Friedrich Nietzsche "Assim Falou Zaratustra)

sábado, 15 de outubro de 2011

Uma perspectiva crítica em psicologia

"'Uma outra vez quis saltar por um brejo mas, quando me encontrava a meio caminho, percebi que era maior do que imaginara antes. Puxei as rédeas no meio do meu salto, e retornei à margem que acabara de deixar, para tomar mais impulso. Outra vez me saí mal e afundei no brejo até o pescoço. Eu certamente teria perecido se, pela força de meu próprio braço, não tivesse puxado pelo meu próprio cabelo preso em rabicho, a mim e a meu cavalo que segurava fortemente entre os joelhos.' (Barão de Munchhausen - Raspe, s/data p. 40).

É essa a melhor imagem que encontramos para designar a ideologia do esforço próprio de cada um para desenvolver a si mesmo e ao potencial contido em sua natureza. 

Assim, há anos a Psicologia tem contribuído para responsabilizar os sujeitos por seus sucessos e fracassos... A Psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de vida, das condições econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens. A Psicologia tem, ao contrário, contribuído significativamente para ocultar essas condições. Fala-se da mãe e do pai sem falar da família como instituição social marcada historicamente pela apropriação dos sujeitos; fala-se da sexualidade sem falar da tradição judaico-cristã de repressão a sexualidade; fala-se da identidade das mulheres sem se falar das características machistas de nossa cultura; fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura; fala-se de habilidade e aptidões de um sujeito sem falar das suas reais possibilidades de acesso à cultura; fala-se do homem sem falar do trabalho; fala-se do psicológico sem falar do cultural e do social. Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia."

(Ana Mercês Bahia Bock)


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Consciência e Revolta


Kirchner

"A forma mais baixa que podemos conceber do universo de homens é aquela a que Heidegger chamou do mundo do "man", mundo em que nos deixamos aglomerar quando renunciamos a ser pessoas lúcidas e responsáveis; mundo da consciência sonolenta, dos instintos anônimos, das relações mundanas, de quotidiano, do conformismo social ou político, da mediocridade moral, da multidão, das massas anônimas, das organizações irresponsáveis. Mundo sem vitalidade e desolado, onde cada pessoa renunciou provisoriamente a sê-lo, para se transformar num qualquer, não interessa quem, de qualquer forma. O mundo do não constitui, nem um nós, nem um todo. Não está ligado a esta ou aquela forma social, antes é em todas elas uma maneira de ser. O primeiro ato duma vida pessoal é a tomada de consciência dessa vida anônima e a revolta contra a degradação que representa."

(Emmanuel Mounier)

domingo, 9 de outubro de 2011

Intervalo Doloroso


"Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.
Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta, com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios da pouca água.

Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não posso lhe tocar.

Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? e quem é triste não pode esforçar-se. Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto quereria abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me.

Quantas vezes me punge o não ser o manobrante daquele carro, o cocheiro daquele trem! qualquer banal Outro suposto cuja vida, por não ser minha, deliciosamente se me penetra de eu querê-la e se me penetra até de alheia!

Eu não teria o horror à vida como a uma Coisa. A noção da vida como um Todo não me esmagaria os ombros do pensamento.

Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda chuva contra um raio.
Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e actos.

Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia.
Mesmo eu , o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de quem me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhêce-las durezas. Todos os pesos visíveis de objectos me pesam por a alma dentro.

A minha vida é como se me batessem com ela."

(Fernando Pessoa "Livro do Desassossego")

Tolerância


Edvard Munch
"Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente, ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro".

(José Saramago)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Bebida milenar














"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas. 


Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, 
nem desconfia que se acha conosco desde o início 
das eras. Pensa que está somente afogando problemas 
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar 
inquietação do mundo!"



(Mário Quintana)



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