"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

domingo, 11 de janeiro de 2015

A Existência como Melodia

Quero viver só para esses momentos em que sinto toda a existência como uma melodia, quando todas as feridas de meu ser, todas as minhas chagas internas, todas as lágrimas não choradas e todos os pressentimentos de felicidade que tive sob os céus de verão, com eternidades azul celeste, se juntaram e se fundiram em uma convergência de sons, em um impulso melodioso e em uma cálida e sonora comunhão universal. 

Emil Cioran,
O Livro das Ilusões


O êxtase musical da existência

Em meu oceano interno gotejam tantas lágrimas quanto vibrações que imaterializam meu ser. Se morresse agora, seria o mais feliz dos homens. Sofri demasiado para que certos tipos de felicidade não me sejam insuportáveis. E minha felicidade é tão frágil, tão ameaçada pelas chamas, atravessada de turbilhões, de serenidades, de transparências e de desesperanças, que tudo junto em impulsos melódicos me arrebata até transportar-me a um estado de beatitude de uma intensidade bestial e unicidade demoníaca. Não se pode viver até a raiz o sentimento musical da existência se não se pode suportar esse inexprimível tremor, de uma estranha profundidade, nervoso, tenso e paroxístico. Tremer até ali, onde tudo se torna êxtase.

Emil Cioran,
O Livro das Ilusões
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