"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

13 de Janeiro de 1943

Coisas terríveis estão acontecendo lá fora. A qualquer hora do dia ou da noite pessoas pobres e desamparadas são retiradas de suas casas. Não têm permissão de levar nem mesmo uma sacola com coisas e um pouco de dinheiro, e mesmo quando têm, essas posses lhe são roubadas no caminho. Famílias são rompidas; homens, mulheres e crianças são separados. Crianças chegam da escola e descobrem que seus pais desapareceram. Mulheres voltam das compras e descobrem as casa lacradas, e que as famílias desapareceram. Os cristãos holandeses também estão com medo porque seus filhos são mandados à Alemanha. Todo mundo anda apavorado. 

Todas as noites centenas de aviões passam sobre a Holanda a caminho das cidades alemãs, para semear suas bombas em solo alemão. Toda hora centenas, ou talvez milhares, de pessoas são mortas na Rússia e na África. Ninguém pode ficar longe do conflito, o mundo inteiro está em guerra, e mesmo com os Aliados se saindo melhor, o fim não está próximo.

E quanto a nós, somos bastante felizardos. Temos mais sorte do que milhões de pessoas. Aqui é calmo e seguro, e estamos usando nosso dinheiro para comprar comida. Somos tão egoístas que falamos sobre "depois da guerra" e ficamos ansiosos por roupas e sapatos novos, quando deveríamos estar economizando cada centavo para ajudar os outros quando a guerra terminar, para salvar o que pudermos. 

As crianças desse bairro andam com camisas finas e sapatos de madeira. Não tem casacos, nem capas, nem meias, nem ninguém para ajudá-las. Mordendo uma conoura para acalmar as dores da fome, saem de suas casas frias e andam pelas ruas até salas de aula mais frias. As coisas ficaram tão ruins na Holanda que hordas de crianças abordam os pedestres para implorar um pedaço de pão. 

Eu poderia passar horas contando a você o sofrimento trazido pela guerra, mas só ficaria ainda mais infeliz. Só podemos esperar, com toda calma possível, que ela acabe. Judeus e cristãos esperam, o mundo inteiro espera, e muitos esperam a morte. 

O Diário do Anne Frank

1984

O vestíbulo cheirava a repolho cozido e a velhos capachos de pano trançado. Numa das extremidades, um pôster colorido, grande demais para ambientes fechados, estava pregado na parede. Mostrava simplesmente um rosto enorme, com mais de um metro de largura: o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis. Winston avançou para a escada. Não adiantava tentar o elevador. Mesmo quando tudo ia bem, era raro que funcionasse, e agora a eletricidade permanecia cortada enquanto houvesse luz natural. Era parte do esforço de economia durante os preparativos para a Semana do Ódio.



(...) Em todos os patamares, diante da porta do elevador, o pôster com o rosto enorme fitava-o da parede. Era uma dessas pinturas realizadas de modo a que os olhos o acompanhem sempre que você se move. O GRANDE IRMÃO ESTÁ DE OLHO E M VOCÊ, dizia o letreiro, embaixo.



George Orwell, 1984

terça-feira, 7 de abril de 2020

À Posteridade

Fiquei alguns dias sem escrever porque queria, antes de tudo, pensar sobre meu diário. Ter um diário é uma experiência realmente estranha para uma pessoa como eu. Não somente porque nunca escrevi nada antes, mas também porque acho que mais tarde ninguém se interessará, nem mesmo eu, pelos pensamentos de uma garota de 13 anos. Bom, não faz mal. Tenho vontade de escrever e uma necessidade ainda maior de desabafar tudo o que está preso em meu peito.

O Diario de Anne Frank
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