Leonid Afremov |
Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que
se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se
haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões.
Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e
outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro lado diferente. Não: cada
um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um
critério idêntico ao outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um,
portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.
(Fernando Pessoa)
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