Há vários dias que passo diante da minha estante de livros e um título que há algum tempo já li me atrai. O livro possui uma capa verde com uma faixa preta, um desenho dos ombros de um homem de terno e gravata, e uma luz amarela desbotada no lugar do rosto. Nada de extraordinário. Paro diante dele, olho, penso na última leitura, mas antes de o retirar do seu confortável lugar, me afasto e volto aos meus afazeres. Da última vez, porém, não pude resistir. Retirei o livro, folheei algumas páginas, li alguns trechos aleatórios e o coloquei no lugar novamente, de certa forma aliviado. Mais um dia se passou, tive a breve impressão de o ouvir me chamar, como se tivesse algo importante a me contar, me contive por um instante, a situação já estava fugindo controle, mas não pude resistir e obrigado por uma força estranha peguei o livro. Mas por que este livro entre centenas de outros? Resolvi então o reler com a missão de resolver o mistério. É um diário datado de 1932. A leitura é agradável. Não consigo parar de ler. Dois trechos me chamam a atenção "Tínhamos um medo horrível dele, porque sentíamos que era um homem sozinho. (...) É isso então que me espera? Pela primeira vez me incomoda estar só. Gostaria de falar com alguém sobre o que está me acontecendo, antes que seja tarde demais, antes que eu comece a assustar garotinhos."* Após esta frase parei de ler e fiquei pensando, afinal não me lembro de ter lido este trecho na primeira vez que o li. Será que é o mesmo livro? Talvez não possamos ler o mesmo livro duas vezes. Antes olhava para minha estante e me orgulhava de todos os livros que havia lido, mas agora olho e vejo um monte de livros estranhos. De súbito tudo começa a se metamorfosear. Já não reconheço nada, tudo é estranho.
- Alan Teixeira
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* A Náusea, J. P. Sartre
2 comentários:
Aposto que este livro verde é do kafka...rss
Não, na verdade é do Sartre, não preciso nem dizer qual, néh?
Bjs
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