Daí a crítica permanentemente presente em
mim à malvadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa
inflexível ao sonho e à utopia. Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve
o meu discurso quando me refiro às injustiças a que são submetidos os
esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum interesse de, não importa que ordem,
assumir um ar de observador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos
acontecimentos. Em tempo algum pude ser um observador
"acinzentadamente" imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma
posição rigorosamente ética. Quem observa o faz de um certo ponto de vista, o
que não situa o observador em erro. O erro na verdade não é ter um certo ponto
de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto de seu
ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com
ele.
Paulo Freire,
Pedagogia da Autonomia
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