"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Perspectivas

Noite Estrelada - Van Gogh
Há certas paisagens que só podem ser vistas a partir de determinadas perspectivas. O tempo, as alegrias, as dores e angústias são as lentes que atravessam meu olhar e constituem o colorido de cada paisagem. Quando a serenidade e o amor repousa em minha alma, incontáveis são as cores e melodias que emanam em minha existência. Queria viver apenas para estes momentos em que sinto a existência em sua plenitude. O prazer deseja a eternidade, mas a inconstância da existência diz "tudo passa" e uma simples teia que se desprende desequilibra e se rompe com o vento. Então à terra é preciso voltar e é preciso também transcendê-la novamente, porque a dor, essa também passa. Há sempre um novo horizonte longínquo a ser explorado. Desta vez irei apenas voltar meu olhar para o céu, esperarei a chuva passar, a guerras e a espada. E quando finalmente a noite cair e eu já puder ver as estrelas, para elas irei cantar as canções que na guerra eu não pude cantar. 

Alan Teixeira


3 comentários:

Leonardo Leite disse...

Se uma coisa é perene nessa vida: é a mudança! E de impermanência em impermanência vamos seguindo a trilha, algumas vezes bem pavimentada e conhecida, outras vezes estreitas e espinhosas, mas sempre com os pés firmes e o olhar atento de quem mesmo vacilante sabe da necessidade de prosseguir. Com a serenidade de um peregrino e coragem de um estrangeiro, vamos seguindo neste nem sempre constante mas mui agradável estado de partida.

Alan disse...

"Estado de partida", gostei desta expressão, Leo! Como diz Fernando Pessoa somos um "cadáver adiado", se isso é verdade, então por que não deixamos essa seriedade de lado e vivemos com a serenidade de uma criança? Ah, quantas ilusões são necessárias perder para voltamos a aquele estado despreocupado, sereno, capaz de rir mil vezes do mesmo filme!

Abraço

Leonardo Leite disse...

Excelente o exemplo da criança, Alan! Ela é toda felicidade e, por isso, a repetição não enfada. Ela não precisa buscar propósito em nada, ressignificar nada, basta-lhe a mais banal desculpa para o sorriso. Eu gosto de usar essa expressão "estado de partida" por que ela remete a uma disposição, uma prontidão diante da vida e de suas flutuações...tem relação com a "fruição", que tanto Rubem Alves gostava de utilizar, uma inclinação do espírito para o vigor da vida.

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