Sempre compreendi que a moral tem por função tornar possível a vida comunitária. Todo rebanho é moral, todo rebanho precisa de uma moral. Mas aqui devemos examinar bem o que eu queria dizer, o que eu compreendia e que poucos compreenderam. Essas regras societárias sãoprescrições necessárias, de utilidade social, e fazem o cunho de sua época. Não são imutáveis nem eternas, nem sobrenaturarais nem perfeitas, mas criadas pelos homens para regularem entre si as suas relações, impostas pelos chefes aos subordinados, pelos dominadores aos dominados. Nem sempre há uma justificação para essa nova ordem, que se apresenta como uma “ordem moral”, “um imperativo moral”, emana de um Deus que justifica. Essa moral heterônoma, imposta, escolhida pelos dominadores, imposta pelo passado e predominante no presente pela vontade dos que representam os interesses do passado, é ódio para mim. Quis substituir o “tu deves” pelo “eu quero”. O homem não é homem enquanto não puder praticar este grande ato de liberdade, que o tornará, senhor de si, quando respeitar á dignidade alheia por amor à sua própria dignidade, e assim o fará porque quer e não porque deve.
Aos que afirmam que o homem é incapaz de atingir esse reino de liberdade, replico-lhes que é sua fraqueza que fala através de suas palavras.”
(Friedrich Nietzsche - A Genealogia da Moral)
[Imagem: Edvard Munch]
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