Parece às vezes que desperto
E me pergunto o que vivi;
Fui claro, fui real, é certo,
Mas como é que cheguei aqui?
A bebedeira às vezes dá
Uma assombrosa lucidez
Em que como outro a gente está.
Estive ébrio sem beber talvez.
E de aí, se pensar, o mundo
Não será feito só de gente
No fundo cheia de este fundo
De existir clara e èbriamente?
Entendo, como um carrocel;
Giro em meu torno sem me achar...
(Vou escrever isto num papel
Para ninguém me acreditar...)
E me pergunto o que vivi;
Fui claro, fui real, é certo,
Mas como é que cheguei aqui?
A bebedeira às vezes dá
Uma assombrosa lucidez
Em que como outro a gente está.
Estive ébrio sem beber talvez.
E de aí, se pensar, o mundo
Não será feito só de gente
No fundo cheia de este fundo
De existir clara e èbriamente?
Entendo, como um carrocel;
Giro em meu torno sem me achar...
(Vou escrever isto num papel
Para ninguém me acreditar...)
(Fernando Pessoa)
[Imagem: Picasso]
2 comentários:
Navegando, este é o segundo poema de Pessoa que vejo postado, felizmente, porque ele é meu favorito (ele e seus Desdobramentos), favorito poeta além-mar.
Tenho um já manuseado livro com sua poesia completa, e estou lá, sempre bebendo da sua embriaguez.
Abraços,
É difícil discriminar no Pessoa, qual poema favorito entre tantos de assombrosa lucidez... embriago-me em suas minuciosas e peculiares poesias que penetram a fundo a alma humana... mas facilmente o discrimino como poeta favorito!
Abraço!
Postar um comentário