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Leonid Afremov |
Quem parte, de manhã bem cedo, para a caça, de barriga vazia e as narinas frementes à menor mudança do vento, quem escuta, inquieto, a ressaca bater na popa do barco, alertando os primeiros odores das folhas por entre o muro espesso dos perfumes das algas e do sal, quem aguça sua vida e seus ouvidos a distância? Quem hoje, não tem necessidade de cartaz ou de mensagem para se permitir ouvir, olhar, sentir, saborear? Órgãos arruinados, empirismo em ruína; impressões perdidas, fantasmas. Desde que falamos, perdemos os sentidos. O que não desperta os sentidos, droga-os. Toma cuidado com o torpor da língua e de filosofia; foge das culturas de proibição. A sabedoria emana do corpo: o mundo dá a sapiência, e os sentidos a recebem, respeita o dado gratuito, acolhe o dom. O mundo belo, oferece gratuitamente o sensível.
(Michel Serres)