A literatura nos salva do quê? Da solidão? Da aspereza das coisas como a casca de um pêssego nas mãos de um alérgico? A vida é áspera, cara, o amor, quando se acha, requer uma ternura que afronta o descartável. Meus rins estão bem, o intestino, o fígado, tudo em normalidade. Ainda assim, meus amigos sugerem buscar apoio. Pensei que já o tivesse. A literatura que roubou de mim até o último centavo, nada então me cobrava. Me trazia à tona, fazia de mim o meu próprio ouvido. Fazia o que eu era, um especialista em Paulologia. Mas não vou à praia este ano, não fui ao bar, à balada. Fiquei desta vez sozinho na trapaça comigo mesmo: me negar um livro eu ainda não tinha experimentado.
(PAULO RIBEIRO)
(PAULO RIBEIRO)
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