"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Infancia

"Como é bom viver! mas sem sabedoria, porque está é o veneno da vida."...

Todas sabem que a infancia é a idade mais alegre e agradável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natureza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um certo ar de loucura, pelo qual elas obtêm a redução dos castigos dos seus educadores e se tornam merecedoras do afeto de quem as tem ao seu cuidado. Ama-se a primeira juventude que sucede à infancia, sente-se prazer em ser-lhe util, iniciá-la, socorrê-la. Mas, de quem recebe a mininice os seus atrativos? De quem, se não de mim, que lhe concedo a graça de ser amalucada e, por conseguinte, de gozar e de brincar?

Quero que me chamem de mentirosa, se não for verdade que os jovens mudam inteiramente de caráter logo que principiam a ficar homens e, orientados pelas lições e pela experiência do mundo, entram na infeliz carreira da sabedoria. Vemos, então, desvanecer e ao poucos a sua beleza, diminuir a sua vivacidade, desaparecerem aquela simpicidade e aquela candura tão apreciadas. E acaba por extinguir-se neles o natural vigor.


(Erasmo de Roterdam - Elogio da Loucura)

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