"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

segunda-feira, 22 de março de 2010

A trôpega velhice

Quando a trôpega velhice coloca os homens à beira da sepultura, então, na medida do que sei e do que posso, eu os faço de novo meninos. De onde o provérbio: Os velhos são duas vezes crianças.

Perguntar-me-eis, sem dúvida, como o consigo. Da seguinte forma: levo essas caducas cabeças ao nosso Letes (porque, entre parênteses, sabeis que esse rio tem sua nascente nas ilhas Fortunadas e que um seu pequeno afluente corre nas proximidades do Averno) e faço-as beber a grandes goles a água do Esquecimento. E é assim que dissipam insensívelmente as suas mágoas e recuperam a juventude. Alegar-se-á, contudo, que deliram e enlouquecem: pois é isso mesmo, justamente nisso consiste o tornar a ser criança. O delírio e a loucura não serão, talvez, próprios das crianças? Que é que, a vosso ver, mais agrada nas crianças?

(Erasmo de Roterdam em "Elogio da Loucura", 1509)

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