"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um esboço...

Não existe meio de verificar qual a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida sempre pareça um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é uma palavra certa porque um esboço é sempre o projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.

Tomás repete para si mesmo o provérbio alemão: einamal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca.

(Milan Kundera - A insustentável leveza do ser)

[Imagem: Ben Goossens]

2 comentários:

Richard Mathenhauer disse...

Ler isso num dia em que questiona o que ando fazendo como bípede falante sobre a terra é algo que me faz amarras os as mãos pra não cortar os pulsos...

(Você leu "Memórias Póstumas de Brás Cubas" quando ele comenta que a vida é uma reedição constante cuja revisão final é dada aos vermes?)

Alan Tykhé disse...

Fragmentos do tipo é bom para tirar-nos do céu para colocarmos de volta os pés no chão... após isso temos a impressão de que vida porvir não passa de resto, mas depois resto é vida outra vez... até que chegue a hora da revisão final dos vermes e talvez o esboço sirva para alguma coisa, para uma outra vida, não no sentido de que esta continua, mas no sentida de quem e do que fica!

Abraço

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