Edward Hopper |
E mais uma coisa: havia um livro aberto sobre a mesa. Naquele café, ninguém jamais abrira um livro a mesa. Para Tereza, o livro era sinal de reconhecimento de uma irmandade secreta. De fato, contra o mundo de grosseria que a cercava, tinha uma só arma: os livros que tomava emprestados na biblioteca municipal; sobretudo os romances: lia-os em quantidade, de Fielding a Thomas Mann. Eles lhe ofereciam uma chance de evasão imaginária, arrancando-a de uma vida que não lhe trazia nenhum satisfação, mas tinham também para ela um sentido como objetos: gostava de passear na rua com livros debaixo do braço. Eram para ela o que a elegante bengala era para um dândi do século passado. Eles a distinguiam das outras.
- Milan Kundera,
A insustentável leveza do ser
Um comentário:
Meu amigo amante do saber,
Conheço muita gente que faz do livro um adorno de elegância e pseudointelectualismo...
Esta obra do Kundera que você cita (e você cita sempre bons livros) é um dos meus favoritos.
E deixa estender um pouco mais contando que certa vez marquei um encontro cujo código era o livro: o meu era vermelho, o outro, preto. Quase Stendhal, né? rs
Um abraço do Camarada de Palavras,
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