"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Velho















O velho sem conselhos, de joelhos, de partida
Carrega com certeza todo o peso desta vida
Então eu lhe pergunto pelo amor:
A vida inteira, diz que se guardou, do carnaval, 
Da brincadeira que ele não brincou
Me diga agora o que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo pra deixar?
Nada só a caminhada longa, pra nenhum lugar.

O velho de partida deixa a vida sem saudades
Sem dívidas, sem saldo, sem rival ou amizade
Então eu lhe pergunto pelo amor:
Ele me diz que sempre se escondeu
Não se comprometeu, nem nunca se entregou
E diga agora o que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo pra deixar?
Nada e eu vejo a triste estrada
Onde um dia eu vou parar.

O velho vai-se agora, vai-se embora sem bagagem
Não se sabe pra que veio, foi passeio, foi passagem
Então eu lhe pergunto pelo amor, ele me é franco
Mostra um verso manco, de um caderno em branco
Que já se fechou
Me diga agora o que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo pra deixar?
Não, foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar,
Não, não vou lastimar.

(Chico Buarque)
[Imagem: Been Goossens]

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