"A literatura tem essa magia de nos tornar contemporâneos de quem quisermos." (Inês Pedrosa)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Revolução dos Bichos

Francisco Goya (Espanha, 1746-1828)

Andaram pé ante pé, até a casa, e os mais altos espiaram através da janela da sala de estar. Lá dentro, em volta de uma mesa grande, estavam sentados meia dúzia de granjeiros e meia dúzia de porcos dentre os mais eminentes, Napoleão, no lugar de honra, na cabeceira.

O Sr. Pilkington, da Granja Foxwood, levantara-se com o copo na mão. Disse que ia convidar os presentes para um brinde. Mas antes desejava dizer algumas palavras, que julgava ser seu dever pronunciar.
Era motivo de grande satisfação para ele - e tinha certeza de que falava por todos os demais - sentir que o longo período de desconfianças e desentendimentos chegara ao fim. (...)

Napoleão, que permanecera de pé, disse que iriam também proferir algumas palavras. Também ele, disse, alegrava-se de que o período de desentendimentos tivesse chegado ao fim.(...)


... e os animais afastaram-se em silêncio. Não haviam, porém, chegado sequer  a vinte metros quando se detiveram ante o vozerio alto que vinha lá de dentro. Voltaram correndo e tornaram a espiar pela janela. De fato, era uma discussão violenta. Gritos, socos na mesa, olhares irados, furiosas negativas. A origem da briga, aparentemente, fora o fato de Napoleão e o Sr. Pilkington terem, ao mesmo tempo, apresentado um ás de espadas.

Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. (...) As criaturas que estavam de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para o porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem e quem era porco. 

(George Orwell, A Revolução dos Bichos)

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